sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Para lá da zona de conforto.

São tantas, mas tantas as vezes que ouvimos isto. Zona de conforto. Mas afinal, o que é a zona de conforto? E o que é que está para além disso?
No início deste ano, tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida. Deixei um emprego confortável, que me dava gozo, apesar dos horários malucos e do stress infinito a que me sujeitava. Troquei-o por uma vida cheia com os meus filhos. Há melhor do que isso? Não senhora. Não há. Mas há também um lado incerto desta vida de stay-at-mum-and-work-mum. E é aí que reside a fronteira da zona de conforto. Porque nunca sabemos no que é que vai dar a ideia, o projeto, o negócio. É tudo uma incógnita! Um verdadeiro totoloto. Sim, porque também é preciso sorte. Não é só com dedicação, empenho, e muito trabalho que se vai lá.
E depois há todo aquele senão das Mulheres/Mães que trocam o emprego pela vida familiar. É que ninguém nos leva a sério.
- "Ah e tal, agora que não trabalhas é que tens uma vidinha santa!"
Pois é, sou muito mais feliz, muito mais preenchida, muito mais bem-resolvida com esta nova vida que escolhi. Não me arrependo, nem por um milésimo de segundo, pela decisão (ponderada) que tomei. Agora não me venham dizer que não trabalho! É que isto de ser Mãe de 3, ter um blog, e agora com a mania que sou empresária, tem o que se lhe diga! Ah! E a parte da dona-de-casa? É que de repente tive de acumular várias funções numa só. Sinto-me uma Mulher-Polvo, capaz de fazer tanta coisa (boa) ao mesmo tempo. Todos os dias chego à cama derreada. Mas com aquele cansaço bom. Cheio de nódoas. Cheio de rímel borratado. Cheio de histórias para contar. Cheio de ternura para dar. São os meus filhos que tornam os meus dias tão ricos, tão completos. E é por eles que eu troquei futuros certos por medos incertos. As horas no trânsito foram substituídas por rotinas dos banhos mais calmas, mais felizes. As idas ao pediatra, às vacinas, às farmácias, de repente perderam velocidade, e até se tornaram em rotinas agradáveis, serenas, maleáveis. Tudo abrandou de ritmo. Tudo, de repente, fez mais sentido.
É claro que, como em tudo na vida, há altos e baixos nestas escolhas que se faz. Há dias em que as birras tomam conta dos miúdos. Em que o cansaço se apodera de mim. Em que tenho saudades de mim. Das minhas coisas. Das minhas manias. Mas as saudades dissipam-se com as gargalhadas genuínas que se escondem atrás de cada esquina da casa. Não trocava nada disto por nenhum emprego seguro e bem remunerado deste mundo.
Prefiro viver com esta adrenalina de ser empresária em nome próprio. De fazer os meus horários. De andar com um filho num joelho, e com o computador no outro. De fazer chamadas de "negócios" enquanto os miúdos estão na escola e o bebé dorme, tranquilamente, mesmo ali ao meu lado. Porque é possível ser-se Mãe e boa profissional, ainda que à nossa maneira. Assim, tenho o melhor dos dois mundos. O rejubilo de poder acompanhar os meus filhos nesta fase em que ainda são pequeninos, e a sensação de dever cumprido, de enorme satisfação, por poder estar a "puxar pela cabeça" todos os dias, sentindo-me realizada. Plena e duplamente realizada.
E se há dias em que parece que tudo corre mal e dá vontade de atirar as ideias que me correm nas veias pelo ar, desistindo de tudo...outros há em que damos pulos de alegria por sermos reconhecidas pelo nosso trabalho. Sim, porque ter um blog não é um mar de rosas. Ou melhor, é um mar de rosas, mas onde temos de ter cuidado com os espinhos...Desta feita, mandei os espinhos à fava e encontrei um oásis de sorte! Quando recebi o email da Parole des Mamans nem queria acreditar! Bom demais para ser verdade. Pois é...vou dar um pulinho a Paris no fim do mês, naquele que é um dos maiores encontros mundiais de bloggers. Sinto que este convite representa o limiar do meu esforço e dedicação ao longo dos últimos meses. E digo isto com uma pontinha de vaidade no coração. Mas da vaidade boa, sincera, humilde. Até lá, vou continuar a trabalhar com afinco num projecto de alma e coração. E sempre com os meus filhos à perna. Até porque eles são, acima de tudo, a minha verdadeira inspiração. E por eles, tenho dito, ultrapasso qualquer zona de conforto, sem ponta de desconforto.

Salut, Paris!



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