365 dias

Ontem a Avó B. fazia 81 anos. Oitenta e um. Ainda no ano passado teve uma festa surpresa, e estava tão bem e tão bonita nos seus 80 anos (que mais pareciam 60)! O que a vida pode mudar num ano...Dá que pensar como é tudo tão efémero e frágil e como tudo é relativo, e como temos que saber aproveitar cada instante da nossa vida, porque para o ano pode ser tudo diferente...

Basta olhar para um bebé recém-nascido e para um bebé de 1 ano e ver o que é que 365 dias mudaram nele. Hoje olho para o M. e nem acredito que ainda o ano passado, na festa da Avó B., era só um recém-nascido....agora já corre pela casa como se não houvesse amanhã! A isto se chama o ciclo da vida...o ano passado tive um filho maravilhoso...perdi uma Avó exemplar. E em 365 dias muito aprendi, muito cresci, muito amadureci, e muito senti. E ontem senti falta da Avó B. e do seu bolo de chocolate que não falhava nestas ocasiões especiais.

Já aqui falei um pouco sobre a minha Avó, sobre a sua personalidade única, o seu exemplo de vida, o seu casamento de sonho...mas como ontem seriam os seus anos e sei que a Avó B. iria adorar, hoje vou falar-vos um pouco da sua imponente figura, que não deixava ninguém indiferente. Ensinou as netas, entre muitas outras coisas que eu já aqui falei, a saber estar, a saber vestir, a saber cuidar de si próprias. Era vaidosa como ninguém (no bom sentido), e nunca saía de casa sem o seu baton rouge (sempre tão dentro das tendências...)
Desde que me lembro, a Avó B. foi sempre loira, com o cabelo e as unhas sempre impecáveis...

Desde que me lembro, as suas manhãs de sexta-feira eram sempre passadas no cabeleireiro. Lembro-me de ter 12/13 anos e de ficar admirada por ter uma Avó que fazia solário e que incentivava as netas, com aquela idade, a arranjar as unhas, o cabelo e a andarem sempre maquilhadas. Adorava aqueles programas de mulheres. Eu e as minhas primas, que ainda eram mais novas do que eu, ficávamos absolutamente fascinadas com aquele mundinho só nosso...Saudades. Muitas saudades. Ainda hoje não consigo passar naquele cabeleireiro sem pensar na querida Avó B.

Ainda sinto o cheiro a água de colónia com que a Avó nos inundava (netos rapazes incluídos...) cada vez que íamos lanchar fora com as amigas, e o cheiro a café e a bolos cada vez que entrávamos na "Chaleira". Ainda sinto a mistura de odores a perfume com que todos ficávamos depois das amigas da Avó nos encherem de beijinhos e xis-corações.

Sempre senti uma atracção especial por filmes de terror e de suspense, e só há pouco tempo é que percebi porquê...a Avó B. adorava ver filmes tétricos e com o volume no máximo (diga-se que ouvia muito mal...) e divertia-se a ver a cara que os netos faziam cada vez que parecia que saltava uma cobra do écran! E sempre, sempre com o seu baton rouge!

Lembro-me de ver a Avó ainda de pijama (de seda...claro!) e já com o seu baton....
Topava à distância os cigarros que a Avó fumava...ficavam sempre a meio e sempre inundados de vermelho.

E ainda agora, já nos últimos meses, não havia um único dia que não chegasse lá a casa e não tivesse um comentário da Avó sobre a minha toilette! Para o bem e para o mal (sim, porque se fosse pela Avó, eu deveria andar sempre de saltos e baton rouge, ainda que grávida!...)

São coisas simples e, talvez até sem interesse para quem me lê, mas inesquecíveis para mim e, tenho a certeza para quem, como eu, conhecia tão bem esta Avó e gostava tanto, mas tanto dela que ainda dói só de pensar que cá já não está. E ainda há 365 dias distribuía alegria por quem a via...

Bem sei que é a lei da vida, mas com esta Avó podia não ser. Podia ficar connosco, podia não morrer.


A menina pequenina do laço grande sou eu, no dia do casamento dos meus tios
 (o meu irmão está ao colo da Avó B., sempre bonita e glamourosa...)